quinta-feira, 2 de setembro de 2010

CONTOS - ROBERTA CRISTINA SCHEBEUKA - 2º A


Colégio Estadual Miguel Franco Filho - Contenda PR

Título: Segunda chance

Autora: Roberta Cristina Schebeuka - 2ºA

Disciplina: Língua Portuguesa - Orientação: prof. Galli - 2010

Millena dos anjos, uma jovem que convivia diariamente com o sofrimento. Ficou viúva muito jovem, perdeu seu marido num acidente de automóvel, ainda sente os sinais dos pontos em sua cabeça. Quando se olha no espelho e vê a pequena cicatriz acima da sobrancelha, na hora relembra de como aquele terrível acidente: ela e seu marido João Victor estavam indo passar o final de semana na casa de sua mãe, num sítio, em Posso Fundo, uma localidade no meio do nada, num pequeno povoado no sul do Brasil.

Distraída, Millena, lia o jornal do dia como fazia todas as manhãs:

Menina sobrevive ao ciclone Nargis, em Dedaye, Mianmar. O ciclone deixou mais de 133 mil mortos quando atingiu o país. As Nações Unidas estimam que mais de 2,4 milhões de pessoas precisem de ajuda com urgência, mai de um milhão ainda não recebeu qualquer tipo de auxílio internacional.

Estava chovendo muito forte, numa estrada pequena e precária, João Victor perdeu o controle do carro, e bateu num barranco; capotam várias vezes. Cada vez que se lembra desses momentos, sente um calafrio enorme em todo seu corpo.

Como superar a perda de um grande amor? Como recomeçar a vida? Quatro anos se passaram e, apesar de tudo ela ainda ama seu marido. Millena tenta prosseguir sua história, mas as lembranças estão por toda parte, em sua mente, em sua casa, em seus pesadelos, em sua vida. Assistindo televisão em seu quarto, Millena começa a revirar uma pequena caixa, na qual deixou as cartas que João Victor lhe escrevia. Relê uma das cartas, na qual encontra um poema de Ferreira Gullar que sempre lhe chamou a atenção: quando você for se embora,/ moça branca como a neve, / me leve// Se acaso você não possa / me carregar pela mão, / menina branca de neve, / me leve no coração // Se no coração não possa / por acaso me levar,/ moça de sonho e de neve,/ me leve no seu lembrar// E se aí também não possa / por tanta coisa que leve / já viva em seu pensamento / menina branca de neve,/ me leve no esquecimento. Millena nunca havia percebido o verdadeiro significado daquele poema, mas depois da morte do marido tudo passou a fazer sentido. Chorou muito ao lembrar os momentos que passaram juntos, ela pareceu percebeu agora o que seu marido sempre falava nas cartas: morte, solidão, tristeza, como se pressentisse algo, como se soubesse que iria deixar a mulher amada num completo desespero. O que ela realmente sabia é que ainda amava aquele homem, seu coração sentia todas as sensações, ou seja, a solidão estava muito presente amargurando sua vida, suas noites de sono, seus pensamentos... Para ela a solidão é uma das piores dores, pois afeta todo o corpo, a mente, o pensamento, mexendo com todas as estruturas, como uma bomba que explode de repente, derrubando tudo, desestruturando, acabando com a felicidade, com sorrisos, com os abraços, ficando apenas as lágrimas, lágrimas de tristeza, lágrimas que caem dos olhos, passam pela face e se acabam ao tocar no chão, formando os rios do sofrimento.

E o que fazer com a morte? Algo inesperado, repentino, que tira a vida. Para a morte não há solução, ela vem para todos, mas mesmo assim, nos deixa imune à felicidade, nos tira a alegria e deixa no lugar a angústia.

Em memória, Millena se lembrou de uma manhã de domingo, em que preparava o café da manhã para seu amado, panquecas. Lia a receita tentando decifrar as letras que sua avó escrevera, naquele antigo livro. Ingredientes: 3 ovos, 1 xícara de leite, 1 xícara de água, meia colher de sal, 2 xícaras de farinha de trigo. Modo de preparo: colocar em uma bacia a farinha de trigo, acrescentando aos poucos o leite e a água, e depois os ovos. Sal à gosto. Para fritar, passe um pouco de gordura numa frigideira e coloque a massa só para cobrir o fundo. Rechear com carne moída, queijo, ou qualquer outro recheio de sua preferência. Tudo isso a fazia relembrar os momentos que viveu ao lado de seu marido, fazia com que a dor e o sofrimento continuasse ainda mais em seu peito deixando-a sem forças para prosseguir, para enfrentar cada dia de sua mísera vida.

Em tempo, ela teve de enfrentar as dificuldades sozinha e para melhorar sua vida financeira, Millena decidiu alugar um quartinho nos fundos de sua casa. Colocou uma placa na frente: “aluga-se um quarto”. Não demorou muito e logo tocou a campainha. Era um homem, não o conhecia, devia ser de outro lugar distante. Saiu para conversar:

- O quarto ainda está vago?

- Sim, está interessado?

- Estou há dias procurando um lugar para morar. Posso entrar?

- Sim.

Na realidade, Millena não queria alugar o quarto para um homem estranho, mas precisava do dinheiro e ele aparentava ser uma boa pessoa, simpático, bem vestido, então acabou permitindo a entrada. Depois de acertar o contrato de aluguel com Wagner ela decidiu ajudá-lo a tirar todas as antigas coisas de João Victor que estavam no quartinho. Passaram o dia limpando o lugar, Millena contou que era viúva, Wagner ficou impressionado com a história e com a beleza daquela jovem mulher:

- Não leve a mal o que vou dizer, mas como uma mulher tão bonita como você está morando sozinha nesta casa? O silêncio de Millena fez com que Wagner se sentisse mal pelo que disse.

Com o tempo o carinho de Wagner por Millena só aumentava, ela não percebia como ele a olhava diferente, com um brilho diferente nos olhos. Como fazia todas as noites, antes de dormir Millena orava para que Deus lhe ajudasse, lhe guiasse, e a fizesse esquecer e suportar todos os problemas impostos pela vida:

Senhor, ouve a minha prece, que o meu grito chegue a ti! Não escondas a tua face de mim, no dia de minha angústia. Inclina teu ouvido para mim, e no dia em que eu te invoco, responde-me depressa. Porque meus dias se consomem em fumaça, meus ossos queimam como braseiro. Pisado como relva, meu coração esta secando e eu me esqueço até mesmo de comer. Por culpa da violência do meu grito, os ossos já se grudam à minha pele. Estou como o pelicano no deserto, como o mocho das ruínas. Fico desperto, gemendo, como ave solitária no telhado. Eu como cinzas ao invés de pão e com a minha bebida misturo as lágrimas, por causa de tua cólera e do teu furor, pois me elevaste e me jogaste ao chão. Meus dias são sombras que se expandem e eu vou secando como relva.

Vendo que Millena precisava se distrair um pouco, Wagner decidiu ajudá-la. Na manhã seguinte ele comprou um aparelho de DVD e logo após comprar o aparelho, parou em uma lanchonete para fazer um lanche e aproveitou para ler o manual do aparelho: Sistema a laser. Reprodução automática. Reproduz DVDs, vídeo, CDs, super vídeos, CDs, VCD e CD-R ou CD-RW contendo faixas de áudio ou arquivos MP3. Consumo aproximado de energia: 0,45 KW/H. Logo convidou-a para assistir alguns filmes. Wagner escolheu um documentário sobre a vida de Getúlio Vargas, pois era curioso em conhecer a vida das pessoas historicamente importantes de nosso país. Assim, quando criança, adorava as aulas de história, ler como as coisas foram acontecendo, mas o que ele mais entendia era sobre o descobrimento do Brasil; as imagens em preto e branco dos livros da biblioteca da escola, as velhas fotografias ilustrativas fascinavam aquele menino e o encantavam, pois quando ainda não sabia ler, via as imagens que o faziam viajar no pensamento, imaginar o que estava ocorrendo naquela instante fotográfico. Queria aprender, ler muito bem e descobrir o que significava cada gravura.

Mesmo não gostando muito do que estava assistindo, Millena percebeu a admiração de Wagner pelo documentário, os olhos fixados na tela da televisão, prestando total atenção, sem desviar o olhar para nada, nem mesmo para seu papagaio que insistia em repetir o que ouvia. Mas, tudo cansa, até a solidão, foi a conclusão a qual Millena chegou, estava cansada de ficar só, de dormir sozinha, de morar sozinha. Precisava entender que João Victor não iria voltar mais, porque para a morte não há solução, nem retorno.

E agora? O que iria fazer? Na realidade sentia um imenso carinho por Wagner, mas desse carinho surgiu uma grande e bela amizade ou, quem sabe, um amor! Era isso que precisava descobrir. De qualquer forma já havia um sentimento entre eles. Será isso a curar da dor? De cicatrizar as feridas? Isso só o tempo irá dizer. Mas, é inegável que Wagner fez com que seu coração batesse mais forte, coisa que acontecia apenas com João Victor.

Agora, Wagner e Millena já estão tão envolvidos em um romance que resolveram morar juntos, mas procuraram uma outra e deixar o passado para trás e pensar apenas no futuro.

Foi um dia estafante e após chegar do trabalho, Wagner pediu um remédio para dor de cabeça à Millena e ela o trouxe: Dipimed, dipirona sódica que atua bloqueando a síntese e a liberação das prostaglandinas, substâncias envolvidas diretamente na fisiopatologia do processo doloroso. Além desse efeito periférico a dipirona sódica pode ainda atuar diretamente no tálamo, diminuindo a passagem de impulsos dolorosos através desta estrutura. A dipirona sódica e o álcool podem ter influência recíproca nos seus efeitos. No caso de tratamento concominante com ciclosporina pode ocorrer uma diminuição do nível desta, por esta razão são necessários controles reguladores. A dipirona sódica é um potente analgésico, com propriedade antiespamódica. O mecanismo de ação analgésica central por inibição de síntese de prostaglandinas e pela ativação do potencial inibitório do tronco cerebral, leva á depressão da transmissão do impulso no sistema nociceptivo e à diminuição da taxa de descarga dos neurônios espinhais. A ação periférica resulta na inibição da susceptibilidade da atividade nociceptora pelas substâncias hiperalgésicas. Após Wagner tomar o remédio, Millena o chamou para conversar:

- Preciso falar uma coisa séria com você!

- O que?

- Quero ir ao hospital amanhã.

- Você está me assustando, por que quer ir ao hospital?

- Eu não tenho certeza, mas acho que estou grávida.

Era tudo que Wagner queria, um filho. Seu sonho estava se tornando realidade. Dos seus olhos caiam lágrimas de felicidade, uma felicidade tão grande que seu coração estava batendo mais forte. Logo souberam que Milena estava grávida de gêmeos, dois meninos, Wagner fez questão de arrumar um quarto lindo e completo para eles.

Chegando da maternidade, Millena com Mateus nos braços e Wagner com Diogo. No quarto do casal, Millena encontrou um papel em cima da cama, era a letra de Wagner:

... só depois que o sol lhe abençoou o ventre; depois que nas suas entranhas ela sentiu o primeiro grito de sangue de mulher, teve olhos para essas violentas misérias dolorosas, a que os poetas davam o bonito nome de amor. A sua intelectualidade, tal como seu corpo, desabrochara inesperadamente, atingindo de súbito, em pleno desenvolvimento, uma lucidez que a deliciava e surpreendia. Não a comovera tanto a revolução física. Como que naquele instante o mundo inteiro se despia à sua vista, de improviso esclarecida, patenteando lhe todos os segredos de suas paixões. Agora encarando as lágrimas, ela compreendeu e avaliou a fraqueza dos homens, a fragilidade desses animais fortes, de músculos valentes, de patas esmagadoras, mas que se deixavam encabrestar e conduzir humildes pela soberana e delicada mão da fêmea.

Wagner se rendeu ao amor, amor que lhe fez a pessoa mais feliz do mundo, ao lado da mulher que amava: Millena. Para eles o amor é uma das formas de encontrar a felicidade. Felicidade que Milena não tinha há muito tempo, mas encontrar Wagner foi uma segunda chance que Deus lhe permitiu ter.