sábado, 30 de abril de 2011

UM APÓLOGO

UM APÓLOGO - Machado de Assis


Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.


— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.


— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.


— Decerto que sou.

— Mas por quê?



— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?


— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?

— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...


— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.


— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...


Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...


A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:


— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.


Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:


— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:


— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.
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pólogo", Machado de Assis cria uma história de rivalidade e ciúmes entre uma linha e uma agulha: uma debatendo com a outra quem é mais importante para um vestido de baile de uma jovem dama.



A agulha se vangloria por estar sempre entre os dedos da costureira, ao passo que a linha lembra que, terminado o trabalho, a agulha vai para a caixa da costureira enquanto ela, a linha, irá para o baile com o lindo vestido e sua dona. Uma história bastante interessante e divertida que vale a pena ser lida.



Joaquim Maria Machado de Assis, nascido em 1839, é considerado o maior nome da literatura nacional. Foi poeta, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Sua obra constitui-se em nove romances e peças teatrais, 200 contos, cinco coletâneas de poemas e sonetos e mais de 600 crônicas. Veio a falecer em 1908, aos 79 anos de idade.

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Oque é um apólogo:




É uma narrativa que busca ilustrar lições de sabedoria ou ética,através do uso de personalidades de índole diversa,imaginarias ou reais,que podem,ser tanto inanimadas como animadas.Serve de exemplo clássico os apologos de Ésopo.Pode ser confundido com fábulas que envolvem animais ou coisas e com parábolas que somente entre homens e comumente de cunho religioso.Diversos autores consideram que pode-se considerar o apólogo como uma parábola que não utiliza apenas,e a título de analogia um caso particular.

CONSELHO DE CLASSE - 30-04-2011

APMF do Colégio serve café da manhã ao Professores e Funcionários que estiveram reunidos no dia 30-04-2011 para o 1º Conselho de Classe do Ano Letivo de 2011. Muitos assuntos foram discutidos visando um melhor aproveitamento escolar aos alunos. Durante o Conselho também foi falado do Projeto Jovem Archivement. Quem fez o repasse aos presente foi o professor Galli que irá trabalhar com alunos das 8ªs Série e 2ºs anos.













quarta-feira, 20 de abril de 2011

APMF COMEMORA A PÁSCOA COM ALUNOS

No dia 20-04-2011 a APMF-Associação de Pais do Colégio patrocinou um Lanche Especial para todos os alunos do Colégio. Foi servido um delicioso cachorro quente e suco. Participaram juntamente com a APMF a Equipe de Direção, Funcionários e Professores. Todos os alunos foram servidos e muitos deles puderam repetir o lanche que totalizou 1200 sanduiches.