quinta-feira, 2 de setembro de 2010

CONTOS - PAULO DIETER FRANZKIE E PHELIPE MATEUS FLEITER - 2º A

Colégio Estadual Miguel Franco Filho – CEMFF - Contenda PR

Título: A vingança


Autores: Paulo Dieter Franzke, n.15


Phelipe Mateus Fleiter, n.16 - 2 A



Disciplina: Língua Portuguesa - Orientação: prof. Galli – 2010


Registrado com o nome de Billie Jhones, filho de Bad Streap Bill. Billie era órfão de mãe, conhecedora do segredo das mezinhas deixou anotações fundamentais em cadernos antigos também herdados de gerações já bem mais anteriores, as avós já passadas, queimadas nas fogueiras santas, das quais seguia as breves indicações e segredos das curas e feitiços. Billie guardava o caderno como uma relíquia e o que ele mais gostava, era da parte que tratava das plantas tóxicas de tantos lugares do mundo:


Cajueiro: o óleo da castanha provoca vômitos, cólicas e caganeiras; Cega-olho: cólicas, diarréias, vômitos, morte e perturbações oculares. Cogumelo europeu: intoxicação rápida e lenta; Comigo-ninguém-pode: irritação da boca, dor intensa, fala difícil; Purgante-de-cavalo: distúrbios fortes do fruto ou das sementes, levando inclusive à insuficiência renal; Mamona/palma-de-cristo, rícino de grande difusão no nosso meio. A ingestão de pequena quantidade da planta levou à morte crianças e adultos que ingeriram de 3, a 20 grãos. O óleo tem efeito cagante e diarréias sanguinolentas; Juá: fruto comparável à ameixa provoca confusão motora; Meimendro-negro: muito venenosa usada para cólicas e enjôos de viagem; Saia-branca: alterações psíquicas, excitação, torpor e cagação evacuatória; Trombeteira: acaba com a vida dos mortais. Seu suco era usado pelas donas romanas para embelezar a pele; Espirradeira: intoxica pelo perfume, ingestão de flores e até por comer carne assada com espeto de sua madeira. No gado provoca paralisia e morte. Plantas abortivas: Guiné: as raízes têm efeito abortivo, leva a imbecilidade e morte, chamada pelos escravos “amansa senhor”; Arruda: na gestação pode acarretar morte fetal. Plantas viciosas: Tabaco: nicotiana tabacum; Cannabis sativa; Papoula-ópio e a Coca do novo mundo. Regras: Não use plantas que não conheça; não aumente doses de uma receita, mesmo não venenosas doses altas podem ser tóxicas; não use pra dentro plantas com indicação pra fora. Mas uma planta o fascinava, “a erva do diabo”, (Datura Stramonium) das quatro cabeças: raiz, haste, folhas, flores e sementes. Quem a tornar sua aliada tem de aprender respeito delas nessa ordem. A cabeça mais importante: as raízes. O poder da erva é conquistado por meio das raízes. A haste e as folhas: cabeça que cura moléstias, essa cabeça é uma dádiva para a humanidade. A terceira cabeça, as flores: é usada para amalucar, ou matar. O homem que tem essa erva por aliada nunca absorve as flores, nem mesmo a haste e as folhas. As raízes e sementes são absorvidas, especialmente as sementes, a mais poderosa, das quatro cabeças.

Sua mãe, acusada de bruxismo, foi vítima de piratas que saquearam o porto onde viviam; foi uma atitude sangrenta, tempo de sangue, ira de sangue, herança de sangue, espólio de sangue, uma era de sangue.

Billie, desde pequeno ajudava seu pai no porto de Sant’Hellen, nas cargas e descargas de navios e, ao entardecer, quando voltava para casa observava seu pai produzir lâminas e armas, que compunham a artilharia dos soldados da corte suprema, os protetores do porto. Seus ídolos: o lendário Thomas Cavendish e Roque Brasiliano, ou Roque Brasileiro, o primeiro foi um saqueador da Villa de São Vicente, Brasil que atacou o litoral sul e veio para uma pequena ilha no litoral norte da chamada Ilhabela, onde ficou abrigado após saquear e atear fogo no primeiro munícipio brasileiro. Após saquear São Vicente ele teria chegado a uma praia localizada na ilha cujo o nome ele batizou de Castelhanos. Logo em seguida mobilizou seus homens para esconder o grande tesouro furtado em São Vicente e rumou mata a dentro para esconder o tesouro numa praia da ilha que tem por nome Saco do Sombrio. Logo após, Thomas Cavendish voltou a Castelhanos. Era um corsário que recebia ordens da coroa e teria que retornar à Inglaterra para levar o tesouro para a coroa. No entanto, Thomas Cavendish não queria retornar e seus homens fizeram um motim e o mataram. Roque Brasileiro, pirata holandês nascido em Groninga. Sua carreira como pirata durou de 1654 a 1671. Embora seu nome verdadeiro tenha se perdido na história, tornou-se conhecido através da grafia francesa “Roche Braziliano” devido sua estada no Brasil durante o período da ocupação holandesa. Roque Brasiliano era um bucaneiro notoriamente cruel, que operava a partir de Port Royal, na Jamaica. Foi corsário na Bahia, antes de se mudar para Port Royal em 1654. Lá, liderou um motim e adotou a vida de bucaneiro, apropriando-se de navios carregados de riquezas. Os espanhóis eventualmente o capturaram e o enviaram à Espanha, mas ele escapou e continuou sua carreira criminosa, comprou um novo navio de seu colega pirata François L'Ollonais, posteriormente navegando em companhia do lendário pirata Sir Henry Morgan, entre outros. Beberrão e dissoluto, Braziliano ameaçava balear qualquer um que não aceitasse um convite para beber com ele. Certa vez queimou dois fazendeiros espanhóis que se recusaram a entregar-lhe seus porcos. Tinha um ódio especial a seus prisioneiros espanhóis e os tratava de maneira bárbara, desmembrando-os ou assando-os vivos sobre uma fogueira.

Como sempre, Bad Streap lia o jornal matinal e, certa vez viu o anúncio de um comunicado da coroa:


Procuram-se tripulantes com experiência naval, a fim de desbravar mares nunca dantes navegados em busca de um novo território a ser colonizado. Comparecer dia 08/03/1709. P.S. A coroa pagará uma alta recompensa a quem se apresentar.

Streap compareceu no dia marcado e por sua alta experiência foi nomeado capitão do navio Black Shark. Mas, para sua infelicidade, Billie não poderia embarcar, pois era jovem demais para se aventurar em alto mar. A proposta de ser capitão era irrecusável, decidiu deixar Billie sob a responsabilidade de seu tio Jack, dono de uma taverna à beira do porto onde baderna, violência e bebedeira eram constante, consideradas coisas normais.

Antes de partir Streap deu sua benção ao filho, o aconselhou a obedecer ao tio e esperar até seu retorno, deu-lhe também uma bíblia para lembrar que sempre haveria alguma força superior olhando por ele. Seu pai, com o coração apertado deu-lhe um abraço e, finalmente entregou o presente, uma pequena caixa de madeira que continha o que um marinheiro mais precisa: uma bússola e junto a ela uma carta manual escrita por ele:

Filho meu, leia e estude com atenção, um bom marujo deve dominar esses conhecimentos: a bússola é um instrumento para orientação através do campo magnético terrestre que determina a direção Norte-Sul. Apresenta um mostrador com os pontos cardeais e os auxiliares, a Rosa dos Ventos. É o instrumento de navegação mais importante a bordo. Baseia-se no princípio de que um ferro natural ou artificialmente magnetizado tem que se orientar segundo a direção do campo magnético. A rosa-dos-ventos marca os pontos cardeais e os quadrantes divididos consoante os 32 rumos, as quartas (11º15') e podem ser divididas as meias-quartas (5º 37' 30") e estas em quartos (2º 48' 45"). A declinação da agulha é a diferença entre o norte geográfico e o norte magnético tomada pela observação da estrela polar no hemisfério norte ou da estrela ao Pé do Cruzeiro no hemisfério sul. Consta de leves barras magnetizadas e paralelas que se fixam na parte inferior de um disco graduado. O disco tem no centro um capitel com um cavado cônico com rubi, safira, etc., na qual assenta uma haste vertical, o pião, fixada no fundo do morteiro. No vidro ou na parede do morteiro existe um traço vertical chamado linha de fé que indica a direção da proa. A bitácula contém um cardan que permite o morteiro se manter na horizontal apesar da oscilação das naus. Para diminuir o balanço, o morteiro deve ser cheio de água, álcool ou petróleo branco. As agulhas devem ser sensíveis e acusar qualquer variação para não se deslocar pela oscilação da naus. Entre o Sul e o Leste está o sudeste (SE), entre o Sul e o Oeste, o sudoeste (SO), entre o Oeste e o Norte, o noroeste (NO) e entre o Norte e o Leste, nordeste (NE). Pontos Cardeais, Pontos Auxiliares e Co-laterais são os nomes usados em navegação. As bússolas têm a escala graduada de: 0° a 360°, a escala numérica corresponde aos 64 pontos de orientação que cita 32 rumos associados. A resposta vem da poderosa e invisível força de um imã imenso, o magnetismo da terra. Os meridianos, as linhas norte-sul passam pelo Pólo Norte geográfico representados por finas linhas negras. A declinação só existe porque o pólo norte e o pólo magnético não coincidem e varia conforme o local do navio nos mares. Felicidades futuro marujo e adeus, meu amado filho.

E, finalmente embarcou e o navio seguiu seu rumo. De longe Billie avistava o pai e acenava para ele com os olhos cheios de lágrimas. Aos poucos via o navio perder-se na névoa. Quanto mais os dias passavam, mais a saudade de seu pai aumentava. Billie sentava à beira do cais olhando o horizonte lá distante a observar a luz do luar que refletia no mar tranquilo e ondulante à espreita da volta de seu progenitor. Estudava a carta manual da bússola e os ensinamentos na velha bíblia que seu pai lhe deixou; adorava os provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel:

Para se conhecer a sabedoria e a instrução, entender as palavras da prudência, receber a instrução do entendimento, justiça, juízo e equidade; Para dar aos simples prudência e aos moços conhecimento; o sábio ouvirá e crescerá em conhecimento e adquirirá sábios conselhos; Para entender os provérbios; as palavras dos sábios e as suas proposições. O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução. Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não deixes o ensinamento de tua mãe, porque serão como diadema gracioso em tua cabeça, e colares ao teu pescoço. Filho meu, se os pecadores procuram te atrair com agrados, não aceites. Se disserem: vem conosco a tocaias de sangue; embosquemos o inocente sem motivo; Traguemo-los vivos, como a sepultura; e inteiros como os que descem à cova; acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos as nossas casas de despojos; Lança a tua sorte conosco; teremos todos uma só bolsa! Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; Porque os seus pés correm para o mal, e se apressam a derramar sangue. [...] Porque o erro dos simples os matará, e o desvario dos insensatos os destruirá. Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará livre do temor do mal.


A leitura dos provérbios era seu alento. Os anos se passaram e a preocupação de Billie com seu pai aumentava, pois os tripulantes que embarcaram no navio Black Shark a comando de seu pai já se encontravam seguros em suas casas e com suas famílias, menos o pai tão amado e saudoso. Mais tarde veio saber que seu pai morrera em combate protegendo seu navio contra piratas das Índias Orientais. Ficou abalado com a notícia, suas pernas esmoreceram e lágrimas de dor e tristeza molharam sua face. Seu rosto que antes fora de traços suaves tinha agora uma expressão de ódio e profunda sede de vingança. Sem saber quem foi o causador de sua tristeza, foi buscar um consolo com seu tio Jack, que mais se importava com os lucros de sua taverna do que com o bem estar do sobrinho. Ninguém deu importância a dor da perda de seu pai, o que o deixou mais revoltado. Percebeu que era hora de acabar com sua angústia. Apresentou-se ao novo capitão do navio Black Shark, para navegar dentre os mares à procura do assassino de Streap.

Black Beard, como era chamado o novo capitão do navio, um homem frio e destemido; exceto para os tripulantes de seu navio, era incapaz de ter sentimentos e piedade de alguém. Aceitou Billie como marujo, com a condição de sempre obedecer a suas ordens e trabalhar duramente no convés. Depois de Billie o agradecer, Black Beard deu um grito:

- Ao serviço cães sarnentos. Carreguem o navio, e embarquem com o rum! Içar velas, levantar âncora... A todo pano!

Saíram do porto de Sant’Hellen com destino às ilhas caribenhas para vender especiarias. Depois de meses de grandes tempestades, altas ondas, e vários estragos no navio, chegaram ao Caribe. Ancorou longe do porto pelo motivo dos altos impostos cobrados pela ancoragem de navios cargueiros, o que dificultou o desembarque dos produtos. Billie, como era marinheiro de primeira viagem, ficou no navio como guarda. Deram-lhe um garrucha cano cerrado duplo e uma dinamite como sinalizador, em caso de invasão do navio.

Fazia tempo que Billie estava sozinho no navio, a brisa do vento calmo batia em seu rosto, e o som do bater da água nas rochas o fascinava. Ao por do sol, o tédio o dominava até decidir banhar-se à beira mar, deixou à garrucha e a dinamite no convés, atirou-se ao mar em um mergulho profundo, e nadou até a praia. Exausto deitou na areia e observando as estrelas, encantado com as belezas do céu, quase não percebeu uma estrela cadente apontando o brilho de seu rastro em sua direção, imediatamente lembrou-se do pai e desejou que o propósito da sua viagem fosse plenamente realizado.

O silêncio da noite o embalava em um sono profundo, quando ouviu barulhos na mata, logo se levantou e avistou tochas acesas, e ouviu palavras enroladas por vozes ébrias. Altas gargalhadas dignas de um pirata ecoavam na mata. Músicas e versos eram cantados:


“fazemos maldade sem nos importar

Bebei amigos,

Yo ho!

Yo Ho!

Yo Ho!

eu sou um pirata sim!

Mas somos amados por nossas mães e pais

Bebei amigos,

Yo ho!

Yo Ho!

Yo Ho!

eu sou um pirata sim!”


Sua dedução estava certa, eram piratas. Saia da mata um grupo deles em sua direção. Apavorado, Billie não pensou duas vezes, correu em disparada até o mar e nadou incansavelmente até o navio. Ofegante, acendeu a dinamite e lançou o mais perto possível do porto, que obviamente chamou a atenção da tripulação e também dos piratas que perto dali se encontravam. Depois da tripulação inteira a bordo e ouvir a narração de Billie sobre o fato, Black Beard o castigou por deixar o navio sem guarda e por inventar que havia encontrado piratas naquela localidade. Mandou-o para o porão e ordenou que cobrisse as infiltrações de água, e limpasse todo o convés. O capitão Black Beard ficou muito irritado com Billie por ele ter estragado o dia de vendas e disse:

- Que isso não se repita. Caso contrário, não terei piedade de lançar seu corpo aos tubarões. E enquanto não terminar o serviço não irá jantar.


Sem protestar, Billie obedeceu às ordens do capitão e admitiu que estava errado. Enquanto limpava o convés, constantemente olhava para a praia e se lembrava do que aconteceu. Então lhe veio na mente a cena de um pirata distribuindo golpes de espada em seu pai, depois de o matar erguia sua espada ensanguentada para o alto, gritava com uma voz rouca e batia no peito declarando vitória. O pirata de sua imaginação era alto, rude e tinha pele tosquiada pelo sol abrasador dos mares, usava uma capa de camurça e tinha um grande e velho chapéu que disfarçava a enorme cicatriz que ia da ponta da orelha direita até o canto esquerdo da boca.

Billie apoiou-se no timão, ficou refletindo sobre seus pensamentos e sobre ele mesmo: “Pare de pensar bobagem Billie. Como você pode saber quem é o assassino de seu pai?”. Juntou o balde e o esfregão e foi jantar com os demais tripulantes. No dia seguinte, pelo motivo de Billie não ser aprovado como guardião do navio foi com a tripulação carregar os botes com os produtos que iriam ser comercializados. Billie estava indo bem na função que estava exercendo. Depois de receber o pagamento dos fregueses, a tripulação se dirigiu a uma taverna para se descontrair bebendo rum, jogando cartas e dando risadas. Enquanto a tripulação bebia Billie só observava e dava gargalhadas com as histórias que Black Beard contava.

De repente, um homem alto, com cheiro de peixe estragado, sentou ao seu lado em frente ao balcão e pediu uma caneca de rum ao garçom. Billie ficou com os olhos nele, estava perplexo. Até que o homem falou:

- O que foi garoto?... Depois de um instante de silêncio ele tornou a perguntar. - Qual o problema? São as cicatrizes?

Era o pirata que tinha imaginado na noite anterior. Imediatamente Billie sentiu um frio em sua barriga. Juntou forças e coragem e respondeu:

- Na... Não senhor!

O homem disse:

- São as cicatrizes. Eu sei que elas assustam.

O homem estendeu a mão para ele e falou:

- Meu nome é Jhoee, mas todos me chamam de Jow-Jow. Capitão Jow-Jow! Billie hesitou em apertar sua mão, mas com desconfiança apertou-a. E falou:

- Meu nome é Billie, Billie Jhones!

O homem deu um sorriso, tomou seu rum em um só gole e saiu.

O jovem Billie ficou sem saber o que fazer. Não sabia se deixava no esquecimento ou tiraria suas dúvidas, investigando aquele misterioso homem que, à primeira vista parecia simpático.

Billie não conseguia tirar aquele homem da cabeça, pois fora ele quem imaginou matando cruelmente seu pai. Então decidiu deixar a investigação para o dia seguinte, quando tentaria descobrir quem era aquele homem e por que estava em seus pensamentos, sem mesmo nunca tê-lo visto.

No dia seguinte, ao som das gaivotas que pescavam pequenos peixes com seu longo bico, Billie acordou ansioso e tenso pelo que poderia acontecer. Seria mais um longo dia de trabalho. Billie e seus companheiros, como de costume, foram à taverna. Ao entrar, ele observou todos que ali estavam, esperando encontrar o homem que não saia de seus pensamentos. Após olhar todos com muita atenção viu num canto alguns marujos bêbados e no meio deles encontrou quem tanto atormentava seus pensamentos. Seu coração acelerou e sua respiração ficou mais forte, mas Billie tinha consciência que não poderia tomar uma atitude precipitada, pois colocaria tudo a perder, aproximou-se lentamente da mesa onde estavam, e foi convidado pelo capitão Jow-Jow a juntar-se a eles. Todos estavam se divertindo, mas Billie por mais que tentasse disfarçar, não conseguia relaxar. Sua atenção estava totalmente voltada para Jow-Jow, pois imaginava finalmente ter encontrado quem estava procurando. Depois de muito tempo Billie criou coragem e perguntou a Jow-Jow:

- Capitão onde conseguiu essas cicatrizes?

O Capitão virou-se com uma expressão séria e respondeu evasivamente:

- Você ouviu várias histórias esta noite, certamente sabe que piratas colecionam cicatrizes.

Billie fingindo não dar importância respondeu:

- Sim capitão!

Então, o capitão Jow-Jow que gostava de contar as histórias por ele vividas, segue seu discurso:

- Estávamos eu e minha tripulação navegando sem rumo pelas águas do Pacífico, quando avistamos um grande navio e com alto número de tripulantes vindo em nossa direção. Rapidamente hasteamos a bandeira de pirata e fomos ao encontro com a intenção de saqueá-lo. Houve muita luta, vários tripulantes de ambos os navios morreram e como estávamos próximos à praia, alguns tripulantes do outro navio pularam no mar e nadaram em direção à praia para salvar-se. Então ficamos em maior número e invadimos o navio, mas a tripulação seguindo ordens do seu capitão continuou lutando bravamente. A maneira mais fácil de tomar o navio é matando o capitão e foi o que fiz. Consegui chegar até onde estava o capitão e rapidamente descobri que além dos seus tripulantes serem fiéis, ele manuseava com muita perícia sua espada. Essas cicatrizes foram feitas durante o duelo com este capitão. Percebi que não ganharia a luta, então com muita esperteza e rapidez empurrei o capitão e tirei da minha cintura minha velha e companheira garrucha e disparei um tiro certeiro em seu peito, mas ele era valente e mesmo depois de atingido me cortou o rosto com a lâmina afiada de sua espada e eu o decapitei.

Billie ouviu toda a história aparentando calmo, mas sua raiva era imensa, mesmo sabendo a resposta, controlou-se e falou:

- O senhor não disse o nome do capitão do navio.

Jow-Jow tomou um gole de rum e respondeu:

- Seu nome era Bad Streap.

Ódio e tristeza se misturavam aos sentimentos de Billie pela história que ele ouvira, pois agora era hora de agir com calma e frieza planejando sua tão esperada vingança, por que seu pai era um homem trabalhador e honesto. Billie levantou e se despediu de todos. Aguardou do lado de fora da taverna que a tripulação de Jow-Jow saísse. Em punho estava um remo e esperou o momento em que o capitão saísse para atingi-lo, o que não demorou muito. O capitão saiu sozinho e recebeu um golpe certeiro na nuca que o fez cair no chão desmaiado. Billie colocou-o nas costas e carregou-o até um bote, remou até o navio Black Shark no qual embarcaram.

Jow-Jow foi trancado no porão, amarrado, vendado e amordaçado para que os outros tripulantes não ouvissem os possíveis gritos que iria dar, depois de Billie verificar se seu prisioneiro estava respirando, e para acalmar os ânimos e matar sua fome foi até a cozinha do navio e pegou o livro do cozinheiro e preparou um peixe:

Peixe banhado ao rum

Ingredientes:

- 1 peixe de 3 kg;

- 1 caneca de rum;

- 1 xícara de óleo;

- 1 colher de sal;

- 1 cebola grande;

- 5 dentes de alho;

- 2 tomates;

- 1 pimentão;

- 1 maço de coentros.

Modo de preparo: Limpe o peixe, em seguida prepare o molho com as verduras e temperos e recheie-o. Leve ao fogo brando e espere até dourar. Rende seis porções.


Como estava com muita fome, Billie comeu rápido demais, o que causou uma forte dor de barriga. Aproveitou que estava na cozinha e preparou um chá de ervas que aprendeu com seu falecido pai. Aliviado da dor de barriga foi até sua rede dormir, satisfeito e feliz por ter iniciado sua vingança.

Billie acordou na manhã seguinte e observou que o restante da tripulação do navio não havia retornado, pois alguns teriam seu dia de folga por haver ficado tantos dias no mar. Então desembarcou e foi falar com seu capitão e se ofereceu para ser o guardião do navio prometendo não sair por nem um instante. Retornou ao navio e foi direto ao porão onde estava Jow-Jow, arrastou-o até o convés e chicoteou-o, suas mãos calejaram, mas em estado pior ficou as costas de Jow-Jow, em carne viva. Sua ira não diminuiu, mesmo após deixar Jow-Jow naquele estado. Pegou o corpo inconsciente do capitão e o amarrou em duas bolas de canhão e o lançou ao mar na esperança que levasse consigo toda a dor e tristeza guardadas em seu coração. Sua atitude não trouxe seu pai de volta, mas deu-lhe paz de espírito e vontade de viver uma nova vida, um novo começo, um novo lugar... Mas esta já seria uma outra e longa narrativa.